domingo, 1 de agosto de 2010
Democracia Ocidental...
Evacuation de familles sans logement à la Courneuve
Enviado por Mediapart. - Noticias em video na hora
sexta-feira, 30 de julho de 2010
terça-feira, 27 de julho de 2010
Projecto Farol: a solução ou a causa?
O pensamento e a análise estrutural do país e do Mundo são um imperativo constante para quem quer repensar o Mundo que nos cerca e pelo qual disputamos hegemonia de ideias. Porém, esse processo só é eficaz e coerente quando acrescenta parágrafos aos pontos finais, ou seja, quando pensa formas novas de superar crises e de promover desenvolvimento social. Quando as análises feitas se centram em recriar e reinventar “formulas” para modelos obsoletos e que há muito provaram a sua ineficácia apenas estamos a encontrar formas novas de ir ter ao mesmo sitio: à crise, à desigualdade, à injustiça! É nesse campo que o “Projecto Farol” se centra e é nesse pressuposto que se desenrola!
É inevitável dizer que o distanciamento que assumo do “Projecto Farol” é, antes de mais, um distanciamento ideológico. Tem a ver com duas concepções opostas da sociedade, da política, do Estado, da economia. E ao contrário do projecto Farol, que baseado no projecto de sistema que temos, quer criar formas de o aprofundar e do reinventar, aquilo que a realidade e a história me ensinam é que mais que reformar o sistema, precisamos de o superar pensando um novo tipo de sistema realmente potenciador da prosperidade humana.
Esse marco ideológico tão vincado pelo projecto Farol assume-me a priori na sua visão sobre a globalização. A globalização, quer queiramos quer não, surge como resposta às necessidade do mercado de se internacionalizar para poder captar globalmente vantagens e reduzir riscos. É nesse processo que se generalizam as empresas transaccionais, o proteccionismo é abandonado e o comércio passa a ser Mundial, ou Mundializado. Atrás dessa dimensão vieram outras, mas essa é uma outra análise. O que me parece fundamental, é que a globalização económica como a conhecemos em nenhum momento se preocupou com os países de Terceiro Mundo, em nenhum momento pensou formas de cooperação solidárias entre os países, em nenhum momento elegeu o desenvolvimento humano global como a primeira meta, em nenhum momento foi capaz de responder aos grandes problemas estruturais do Mundo. A Globalização capitalista, apenas serviu para afundar o fosso que o Mundo vive.
É por isso que assumo um absoluto distanciamento do projecto Farol. O projecto Farol acredita neste modelo individualista e desresponsabilizado de globalização económica, acha que o caminho é este e que o devemos incrementar ainda mais. É por isso que quer um “Novo Contrato Social para a Globalização”, que embora escondendo (habilmente) o seu conceito, percebe-se o conteúdo central desse contrato: menos Estado, mais desresponsabilidade social das empresas, mais competitividade e mais livre arbítrio sem contrapartidas. Mas além do incremento desse novo contrato, o projecto Farol quer que ele seja educado “OBRIGATORIAMENTE”, embora não esclarecendo concretamente o que significa “educação obrigatória para a globalização”.
Uma resposta à hegemonia dos interesses financeiros e económicos nas escolas e na sociedade civil, exige um repensar do que queremos para globalização, o que é que a globalização deve ser para nós. Mas porque não é esse o objectivo central desta análise, basta esclarecer que rejeitar o individualismo e a competitividade desumana como os valores hegemónicos na sociedade, passa por rejeitar as propostas do projecto Foral para incorporar os valores do mercado na sociedade civil.
A juventude já não aguenta mais pressão mercantilista e “mercantilizadora”. O ensino além de estar a fazer o seu caminho para se transformar num negócio, está a privilegiar a aprendizagem da “produção/consumo”, e a formar não pensadores críticos capazes de pensar-novo, mas simplesmente “máquinas” de produção/consumo que o mercado vai absorver como trabalhadores (eternamente) temporários, sem direitos, obedientes, a quem o futuro vai ser hipotecado.
O pensamento concreto que impõe a rejeição dos valores de mercado na sociedade e no ensino, é a melhor arma que temos para responder aos malabarismos ideológicos que o sistema capitalista cria, e que no fundo, projectos como o Projecto Farol apenas servem para legitimar
É inevitável dizer que o distanciamento que assumo do “Projecto Farol” é, antes de mais, um distanciamento ideológico. Tem a ver com duas concepções opostas da sociedade, da política, do Estado, da economia. E ao contrário do projecto Farol, que baseado no projecto de sistema que temos, quer criar formas de o aprofundar e do reinventar, aquilo que a realidade e a história me ensinam é que mais que reformar o sistema, precisamos de o superar pensando um novo tipo de sistema realmente potenciador da prosperidade humana.
Esse marco ideológico tão vincado pelo projecto Farol assume-me a priori na sua visão sobre a globalização. A globalização, quer queiramos quer não, surge como resposta às necessidade do mercado de se internacionalizar para poder captar globalmente vantagens e reduzir riscos. É nesse processo que se generalizam as empresas transaccionais, o proteccionismo é abandonado e o comércio passa a ser Mundial, ou Mundializado. Atrás dessa dimensão vieram outras, mas essa é uma outra análise. O que me parece fundamental, é que a globalização económica como a conhecemos em nenhum momento se preocupou com os países de Terceiro Mundo, em nenhum momento pensou formas de cooperação solidárias entre os países, em nenhum momento elegeu o desenvolvimento humano global como a primeira meta, em nenhum momento foi capaz de responder aos grandes problemas estruturais do Mundo. A Globalização capitalista, apenas serviu para afundar o fosso que o Mundo vive.
É por isso que assumo um absoluto distanciamento do projecto Farol. O projecto Farol acredita neste modelo individualista e desresponsabilizado de globalização económica, acha que o caminho é este e que o devemos incrementar ainda mais. É por isso que quer um “Novo Contrato Social para a Globalização”, que embora escondendo (habilmente) o seu conceito, percebe-se o conteúdo central desse contrato: menos Estado, mais desresponsabilidade social das empresas, mais competitividade e mais livre arbítrio sem contrapartidas. Mas além do incremento desse novo contrato, o projecto Farol quer que ele seja educado “OBRIGATORIAMENTE”, embora não esclarecendo concretamente o que significa “educação obrigatória para a globalização”.
Uma resposta à hegemonia dos interesses financeiros e económicos nas escolas e na sociedade civil, exige um repensar do que queremos para globalização, o que é que a globalização deve ser para nós. Mas porque não é esse o objectivo central desta análise, basta esclarecer que rejeitar o individualismo e a competitividade desumana como os valores hegemónicos na sociedade, passa por rejeitar as propostas do projecto Foral para incorporar os valores do mercado na sociedade civil.
A juventude já não aguenta mais pressão mercantilista e “mercantilizadora”. O ensino além de estar a fazer o seu caminho para se transformar num negócio, está a privilegiar a aprendizagem da “produção/consumo”, e a formar não pensadores críticos capazes de pensar-novo, mas simplesmente “máquinas” de produção/consumo que o mercado vai absorver como trabalhadores (eternamente) temporários, sem direitos, obedientes, a quem o futuro vai ser hipotecado.
O pensamento concreto que impõe a rejeição dos valores de mercado na sociedade e no ensino, é a melhor arma que temos para responder aos malabarismos ideológicos que o sistema capitalista cria, e que no fundo, projectos como o Projecto Farol apenas servem para legitimar
terça-feira, 13 de julho de 2010
Educação em movimento no Fórum Social
Em Istambul, o Fórum Social Europeu quis, e conseguiu, ir à discussão e à disputa de um espaço político sobre educação.
a assembleia de educação do Fórum Social Europeu decidiu que iria apoiar o dia 29 de Setembro como um grande dia de luta europeia sobre o ensino Esse espaço foi não só ganho à custa de uma intensa teorização e problematização das questões concretas do ensino e das ofensivas neoliberais ao espaço escolar (sob as suas diversas vertentes), como conseguiu também perspectivar formas concretas de luta europeia que respondam à urgência desse combate.
Foram dezenas as delegações de países que marcaram presença nos seminários e workshops sobre educação, que culminaram numa grande assembleia de conclusões e perspectivas de luta sobre o ensino. Professores, estudantes de várias organizações europeias e investigadores da área, pensaram, discutiram e encontraram consensos e proposas concretas. De toda a Europa, organizações, sindicatos e movimentos contestaram directa e frontalmente as repercussões directas da crise do capitalismo no sistema educativo. Exigiram, claramente, uma mudança à esquerda porque a verdade é que a grande conclusão da assembleia sobre educação foi a de que o capitalismo não responde, como nunca respondeu, à crise da educação, e não só não responde como ainda a agrava. Foi portanto claro para os movimento sociais europeus que a crise educativa é inerente à crise do sistema neoliberal, e que a necessidade de mudança de paradigma é uma absoluta realidade.
Entre as várias ofensivas ao sistema educativo, o FSE tentou discutir aquelas que mais força conseguem ter nas escolas e nas universidades, para que um dia europeu de luta pelo ensino seja um verdadeiro sucesso. Entre elas o FSE destaca a privatização do espaço escolar, a incrementação dos "valores de mercado" no sistema avaliativo dos estudantes e os ataques quer ao financiamento das instituições, quer dos direitos de estudantes e professores. Por outro lado, sublinhou-se a urgência da rejeição do ensino como um negócio, a democracia no ensino, o resgate do espaço escolar.
Partindo dessa convergência, a assembleia de educação do Fórum Social Europeu decidiu que iria apoiar o dia 29 de Setembro como um grande dia de luta europeia sobre o ensino. Que o iria fazer, mobilizando organizações, sindicatos e estudantes numa convergência absoluta (provavelmente sem precedentes) em torno de um dos maiores ataques dos últimos anos ao ensino.
Mas o Fórum não só apelou à mobilização para o dia 29 como afirmou que quer criar um movimento de luta consequente. Esse movimento passará quer por um Fórum de Educação Europeu, a realizar em Espanha, como pretende criar espaços de discussão e luta regular na Europa pré e pós 29 de Setembro, pré e pós Fórum de Educação Europeu.
Também aqui o FSE prova que é possível unidade, consequência e muito movimento na luta contra o sistema neoliberal que usa e abusa do sistema educativo e que condena plenamente às orientações do mercado. No Fórum Social Europeu a educação esteve realmente em movimento!
terça-feira, 29 de junho de 2010
O apuramento da inteligência que o partido de Merkel quer fazer na Alemanha traz-me negras recordações do tempo do nazismo em que o apuramento racial era condição de sobrevivência. O método é o mesmo. Desrespeitar as pessoas, impondo-lhe um teste à sua condição – antes física, agora intelectual -, como condição de permanência no país. Só que agora em vez de o bode expiatório serem judeus (e outros grupos), são os imigrantes. O princípio é o mesmo: ódio encapotado às minorias! É um verdadeiro atraso civilizacional e um desrespeito pelos direitos humanos… E afinal de contas, todas as ditaduras sugiram assim.
Não podemos ter memória curta…
domingo, 27 de junho de 2010
Em que Mundo vive Passos Coelho?
Primeiramente publicado em adeuslenine.blogspot.com
Algumas pessoas devem pensar que eu tenho um preconceito ideológico muito forte contra Passos Coelho que leva a escrever quase sempre para ao blogue sobre ele. É verdade, tenho e com imenso orgulho de o ter. Passos Coelho, além de ser um liberal demagogo, o político do marketing e da imagem que a única coisa que tem para oferecer é uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, está-se também a formar como o político que, a seguir a Socrates, mais atrasos civilizacionais pode vir a impor ao país.
A primeira coisa que teve para oferecer ao debate das ideias num tempo de crise financeira, económica, social, de tanta e tanta miséria foi a revisão constitucional. A seguir sucederam-se-lhe algumas pseudo reformas que nem se quer soube concretizar teoricamente (outras que são um perfeito absurdo como a regra de 5 por 1 na função pública). Seguidamente alia-se ao Governo Sócrates e impõe o PEC 1, o PEC 2 e o PEC 3. Posteriormente quis mexer na legislação laboram e penalizar milhares de trabalhadores precários, condenando-os a mais instabilidade e à perda de ainda mais direitos. E agora joga mais um trunfo:
Quer acabar com a garantia constitucional de que a Educação e a Saúde sejam tendencialmente gratuitas e suportadas pelo Estado.
Podemos discordar do papel estratégico do Estado em todas as áreas, agora no garante de condições de Saúde de um sistema de educação público que responda às pessoas pode-se por em causa o papel do Estado?
Isto não só roça a irresponsabilidade como é uma atitude de absoluto desrespeito porque quem neste país não tem condições para encher os bolsos dos donos de hospitais privados e de colégios.
Em que Mundo é que este homem vive?????
A primeira coisa que teve para oferecer ao debate das ideias num tempo de crise financeira, económica, social, de tanta e tanta miséria foi a revisão constitucional. A seguir sucederam-se-lhe algumas pseudo reformas que nem se quer soube concretizar teoricamente (outras que são um perfeito absurdo como a regra de 5 por 1 na função pública). Seguidamente alia-se ao Governo Sócrates e impõe o PEC 1, o PEC 2 e o PEC 3. Posteriormente quis mexer na legislação laboram e penalizar milhares de trabalhadores precários, condenando-os a mais instabilidade e à perda de ainda mais direitos. E agora joga mais um trunfo:
Quer acabar com a garantia constitucional de que a Educação e a Saúde sejam tendencialmente gratuitas e suportadas pelo Estado.
Podemos discordar do papel estratégico do Estado em todas as áreas, agora no garante de condições de Saúde de um sistema de educação público que responda às pessoas pode-se por em causa o papel do Estado?
Isto não só roça a irresponsabilidade como é uma atitude de absoluto desrespeito porque quem neste país não tem condições para encher os bolsos dos donos de hospitais privados e de colégios.
Em que Mundo é que este homem vive?????
terça-feira, 22 de junho de 2010
O último filme a fazer-me chorar...
"Do realizador de Jogos de Poder, o Atentado e Perigo Imediato, chega-nos Catch a Fire: Guerra de Culturas, uma viagem ao mundo da sabotagem, corrupçao e crime, na era Apartheid da África do Sul. O vencedor* de um Oscar® Tim Robbins (Mystic River e Os Condenados de Shawshank) e Derek Luke (Antwone Fisher e Caminho para a Glória) protagonizam este fascinante thriller baseado numa história real. No contexto de um pais em chamas e duas culturas em guerra Catch a Fire: Guerra de Culturas é a história tocante de um homem que sozinho luta por si próprio, a sua família e o seu povo."
quarta-feira, 16 de junho de 2010
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Agradecimento
Há conceitos que aplicamos no quotidiano de forma linear, outros que aplicamos automaticamente, outros que pensamos e não usamos realmente, outros demasiado supérfluos para serem falados e outros demasiado ousados para serem completamente compreendidos. E existe Ela. Ela é um conceito demasiado complexo para ser entendido por meras palavras. É um fluxo de tudo o que é, de tudo o que constrói, de tudo o que pensa, de tudo o que teme, de tudo o que dá. É um fluxo dinâmico onde olhares, palavras e sorrisos se misturam numa harmonia raramente vista e raramente pensada. Ela respira o ar que negativistas expulsam, transforma-o numa brisa encantadora que dá vida aos desencantados.
Não é prefeita: “há beleza na imperfeição”. É uma máquina de palavras e expressões alucinantes que nos consomem por momentos, e ao mesmo tempo uma máquina de silêncios e olhares realmente confortáveis. Ela é um conceito que jamais conseguirei explicar, porque é um conceito que muitas vezes nem entendo. Mas é um conceito que sinto e que sei que me (nos) faz feliz.
Ela não é abstracto mas também não é concreto. Ela não é óbvio mas também não é o complexo. Ela não é desprendimento mas também não é racionalismo. Ela é sonhadora, e como sonhadora tem medo perder. Mas é lutadora, e como lutadora luta contra esse medo. Ela é uma actriz única no palco da vida, e dá ao Mundo uma noção central de existência. Ela não vive por acaso, nem faz do acaso a sua rotina. Ela corrompe os limites do óbvio, e consome-os até tornar intensos os momentos que com Ela vivemos. Ela é definitivamente surpresa. É definitivamente sorriso, lágrimas e entrega.
Ela acorda e vive na intensidade das pequenas coisas que tornam o dia tão colorido, tão próximo e tão nosso. Ela cumprimenta inconscientemente dia após dia a Deneuve, a Zeta-Jones, a Kidman, a Glenn Close, a Maggie Smith, e partilha com elas todo o seu dia, todas as suas expertiências, todos os seus medos, todas as suas aspirações. Com Ela diria: quantas grandes artistas já actuaram no centro do seu quarto? E quantas personagens já ela foi no centro do seu quarto? E quantas discussões terá tido com as suas artistas a respeito das suas personagens e das suas imensas representações?
E é critica o suficiente para saber que a crítica é dinâmica. Por isso pede opinião a Eça de Queiroz, Baz Luhrmann, ao Paulo de Carvalho, ao Platão, aos Jigsaw, ao Mark Herman, à Meaghan Smith, ao Scorsese, à Sónia, ao Tom Hanks, ao Burton, aos goldfrapp, ao Nietzche ou à simples insónia que numa qualquer noite lhe impõe um diálogo. E mesmo Ela sabendo que é um pouco de tudo isso, Ela sabe que todos os dias se enriquece partilhando todos esses maravilhosos diálogos, todas essas maravilhosas críticas, todas essas maravilhosas viagens ao seu Mundo interior.
Da sua guitarra emanam sons que Ela sabe em que pessoas da sua vida encaixam. E Ela consumida pela música da sua vida encontra em cada sentimento e em cada partilha a imensa banda sonora do filme da sua vida, da narrativa do seu Mundo.
Ela é uma absoluta Romântica, e por isso é inconstante. Mas sabe no fundo que como o amanhã é sempre tarde de mais: ADORO-TE MÃE, ADORO-TE PAI, ADORO-VOS AMIGOS, ADORO-VOS SORRISOS, ADORO-VOS SENTIMENTOS, ADORO-TE MUNDO, ADORO-TE VIDA !!! Na sua inconstância ela encontra respostas, e nas suas respostas ela é feliz. Também para mim o amanhã é sempre tarde de mais, por isso: ADORO-TE, ADORO-TE e ADORO-TE !!
E, porra, que se lixe o resto: ABSOLUTAMENTE ARREBATADOR!
….
Ainda que nem sempre entenda aquilo que és enquanto conceito, sinto que fazemos parte um do outro, e que por essa vida fora quando olharmos para o lado estaremos um ao lado do outro, amigos para sempre, confidentes para sempre.
“… Et, même qui La Rose cest important, moi et toi savoir que l´important est que nous existons, et que je t´adore comme tu m´adore” (tentei).
domingo, 6 de junho de 2010
terça-feira, 1 de junho de 2010
…nem só de Rei e Rainha se faz um jogo de xadrez!
O fim da bipolarização do Mundo em nada foi sinónimo de pacificação, de rejeição da guerra e da generalização Mundial de direitos sociais. Foi sim sinónimo de unipolarização do Mundo, sob a égide do imperialismo global. O desaparecimento da potência Soviética fez, a partir de 90, surgir os EUA como a única grande potência económica e militar. Contudo, nos nossos dias uma nova potência emerge, a China. O facto de uma nova grande potência surgir na geopolítica mundial, não faz com que algo mude no Mundo, não é sequer factor de alívio e de esperança para os trabalhadores e para o povo. A ascensão Chinesa é, antes de mais, um motivo de preocupação. Apesar de uma imagem renovada e “marketingzada “, o imperialismo global continua a ser a base de entendimento global e de todo e qualquer equilíbrio de forças…
...mas o Mundo é claro como a clarividência de um charco de água suja!
Os países menos desenvolvidos são sempre quem paga a factura mais alta, sendo brutalmente excluídos do processo de globalização. A Tríade mais a China, são hegemónicos: detém todo o poderio económico, mobilizam e gerem recursos e fluxos de todos os tipos, detém uma superioridade técnica e um poderio económico e político brutal, servindo-se da guerra infinita, da marginalização e aproveitamento dos países menos desenvolvidos e, obviamente, do planeta. Pensar-se nas Nações Unidas como um real factor de equilibro de forças? Impossível… O conselho de segurança não deixa e sabemos precisamente porque…
A globalização reforça a primazia Norte Americana (como sempre o fez). Ao mesmo tempo que favorece o apogeu Chinês. Mas como nem só de Rei e Rainha se faz um jogo de xadrez, o império deu um novo salto. Utiliza novos bispos e torres no imperialismo global. Essenciais à renovação de imagem e à desfiguração que o capitalismo quer impor na cabeça dos cidadãos e da opinião publica. Esses bispos e torres, os chamados novos países industrializados ou semiperiferias são, nos nossos dias, peças centrais do ilusionismo imperialista. Sob a capa do (re)equilíbrio de forças, da democratização do Mundo, e da eficácia do modelo económico globalizante, os países emergentes servem os mesmos interesses das potências: rebaixam-se sempre perante os interesses político e económicos (por exemplo as multinacionais Norte Americanas no México); subjugam-se sempre perante as ofensivas militares (por exemplo a complacência perante a guerra no Iraque, no Afeganistão ou na Palestina); assumem sempre uma posição subalterna em questões ambientais (por exemplo cimeira de Copenhaga); … E portanto sob a capa democratizadora, os países emergentes apenas legitimam o imperialismo global, porque a verdade é que o imperialismo não é democratizável!
São regiões geopoliticamente estratégicas: Ásia Orienta e Sudoeste Asiático; América Latina; Magrebe. Países tidos como exemplos, onde os direitos humanos, o trabalho infantil, a pobreza ou as desigualdades sociais são problemas inultrapassáveis. Conhecemo-los (e certamente não será por acaso) com nomes de animais ferozes e ofensivos: os 4 Dragões Asiáticos (Coreia do Sul, Taiqan, Hong Kong e Japão) ou como os Tigres do Oriente (Malásia, Tailandia, Filipinas e Indonésia)… Próximos da China e do Japão, assumindo um papel geoestratégico de enorme importância. Na América Latina conhecemo-los com mais profundidade: A Argentina, o México, o Brasil… A própria “política de bloco”, com o exemplo concreto da NAFTA, é bem elucidativo do tipo de alianças que se fazem e com que fins. Mas não pensemos que os EUA só se impõe ao país que em 1982 se declarava insolvente e foi “salvo” pelos EUA (México), ou da 10ª economia Mundial que Obama tanto elogia (Brasil) ou do fiel aliado (Argentina). Detém outras influências igualmente importantes como a Colômbia ou o Peru. A região do Magrebe não é imune. O império sabe perfeitamente onde está o seu oxigénio, o petróleo. É por isso que a presença dos EUA, da UE e até da China na Argélia, na Líbia, em Marrocos na Mauritânia ou na Tunísia é tão relevante.
João Nuno Mineiro
quinta-feira, 27 de maio de 2010
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Jose Caroso Pires, "O Delfim"
José Cardoso Pires, com toda a sua complexidade e com toda a sua beleza é um caminho estranhamento rico e inovador na literatura Portuguesa, vale a pena descobri-lo...
«Só agora, dezoito horas catorze minutos, chegam os jornais da tarde, e faço votos que com notícias de bom tempo. Oxalá. Para honra e glória do melhor ganso da época, é indispensável que a criadita me traga um bom Diário de Lisboa ou um bom Diário Popular que não me falem de chuva nem vento forte e ainda menos de trovoada.
(…)
Estendo-me na cama a ler o jornal.
(…)
Este, em particular, vem exausto. Mensageiro maltratado mas convencido (em artigos de fundo e notas do dia) do seu Valiosíssimo Papel de Órgão de Informação nas Estruturas Nacionais, chegou à Gafeira muito composto de bom senso e com a autoridade de ter preenchido as vinte e quatro páginas que lhe competem. Chegou cansado; sem voz, pode dizer-se. Abre-se e pouco adianta, a não ser para os desconfiados leitores das entrelinhas. Mas, vá lá, mal ou bem sempre faz um prometedor boletim meteorológico. Esperemos que não falhe. Que, ao menos, não seja tão desastrado como certas previsões da NASA – lembro-me eu, deparando com a fotografia de Edwin Aldrin a sorrir a duas colunas na primeira página.
UM LAVRADOR FESTEJOU O NASCIMENTO DE UM FILHO VARÃO
Beja, 30 – Mais de 500 convidados festejaram no Monte de Santa Eulália, propriedade do Sr. Patrício Melchior, o nascimento do primeiro filho varão daquele lavrador.
Consumiram-se, entre outras iguarias, doze perus, vinte e quatro cabritos, quinze leitões, trinta e um frangos e cem quilos de borrego. Beberam-se cem litros de vinho, quatrocentas cervejas, duzentas garrafas de whisky…
… e isto, parecendo que não, é um desafio ao sorriso de Edwin Aldrin. Ri-te cosmonauta inacessível, das vitórias que se ganham cá em baixo, e não te espantes. Conheço, meã culpa, vários cidadãos de lavoura-e-cabaré capazes de pensar como o nosso lavrador e, aqui entre nós, nem reparo. Sei como é fundo neles, e constante, e magoado, o sonho de fazerem um homem à sua maneira, ensinando-lhe o mundo e mulheres. Desejo-lhes, portanto: Salute ed figli maschi – que é como brindam (diz-se) os napolitanos legítimos.
Edwin Aldrin encara-me: Com os seus lábios brancos de americano engarrafado em aço. Está cheio de guerra e de publicidade, mas é um cosmonauta – nunca esquecer. É um homem confiante nos milagres que os outros homens vão descobrindo porque se põem à prova neles, e nessa qualidade merecer tudo, quer se chame Edwin, Gagarine ou tenha o nome de código de Major Alfa Zero.
(…)
Um homem que confia, um cosmonauta, leva fios invisíveis de humanidade em esfuziante propulsão. Com ele viaja o nosso velho universo – com lábios assim tão gelados e com escafandros tão tenebrosos. Sinceramente. Falo com a mão na consciência, porque, modéstia à parte, muitos dos meus avós portugueses também foram bons cientistas de descobrir mundo. Excelentes, não exagero.
(…)
Outra vez o sorriso branco: Enquanto as moscas passeiam, o caminhante do espaço permanece suspenso na primeira página do meu jornal. Se lhe descrevessem as fabulosas aventuras dos portugueses que foram, antes dele, navegadores do impossível, talvez não acreditasse.
Também, pouco adiantaria que acreditasse ou não. Acenar com os padrões dos nossos descobridores como resposta às façanhas de um cosmonauta é o argumento dos olvidados, e já enjoa. Estamos fartos de ouvir nos discursos de academia e nas crónicas oficiais. Aldrin nunca teria tempo para isso. Anda excessivamente atarefado com o futuro para poder dar atenção aos desprezados dos século XX…»
quinta-feira, 13 de maio de 2010
é sempre a mesma história que nos contam !!
O capitalismo está constantemente em reconversão: inova, transforma-se, encontra formas de se autolegitimar. E por muito que os discursos politicamente correctos nos venham falar de inevitabilidade não há escapatória: o problema de Portugal, da Europa e do Mundo é um problema ideológico. É um problema de sistema, de organização, de valores. Mais de dois mil anos de hegemonia de um modelo de dualismo social e de exploração (que na verdade nunca ninguém ousou quebrar) nunca oferecerem nada de realmente importante ao Mundo. E não nos desenganemos, porque o problema do PEC e da ditadura do défice é um problema estrutural, meramente estrutural. É um problema ideologicamente estrutural. Com a crise financeira o discurso liberalizador faliu e deu origem ao discurso regulador e moderador (também presente no discurso social cristão e social democrata do pós guerra). Para salvar o sistema os estados meterem rios de dinheiro nos mercados e nos bancos. E agora tapar esses buracos de salvação e os que já existiam criam-se os PECS e a ditadura de mercado. Em Portugal pagaremos (nós os mesmos de sempre) a factura dessa cangalhada elitista que destrói o país, o Mundo e que tem as costas quentes – o modelo neoliberal:
- Aumento para 21% da taxa do IVA.
- Aumento da taxa intermédia para 13 %.
- Aumento da taxa reduzida (a de bens essenciais e alimentares) para 6 %.
- Aumento de 1 % sobre os rendimentos.
- Congelamento salarial.
- Cortes nos subsídios sociais – subsidio de desemprego e RSI.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
...Fresco e riquíssimo.
""Aos quinze anos tive icterícia. A doença começou no Outono e acabou na Primavera. Quanto mais frio e escuro se tornava o ano velho, mais eu enfraquecia. Só melhorei com o novo ano. Janeiro foi um mês quente, e a minha mãe levou-me a cama para a varanda. Via o céu, o sol, as nuvens, e ouvia as crianças a brincarem no pátio. Em Fevereiro, num final de tarde, ouvi cantar um melro.
Vivíamos na Rua das Flores, no segundo andar de um grande prédio do começo do século. O meu primeiro passeio levou-me à Rua da Estação. Foi ali que, numa segunda-feira de Outubro, no caminho da escola para casa, vomitei. Havia já muitos dias que me sentia fraco, tão fraco como nunca antes na minha vida. Cada passo era um esforço. Quando subia escadas, na escola ou em casa, quase não me sustinha nas pernas. Também não me apetecia comer. Mesmo quando sentia fome e me sentava à mesa, depressa ficava com repugnância pela comida. De manhã acordava com a boca seca e com a sensação de que as minhas vísceras pesavam mais do que o costume e que estavam mal arrumadas dentro do corpo. Envergonhava-me de estar tão fraco. E envergonhei-me sobretudo quando vomitei. Também isso nunca me acontecera na vida. A boca encheu-se de vómito, tentei engolir, apertei os lábios com força e tapei a boca com a mão, mas aquilo jorrou através dos dedos. Depois apoiei-me à parede de uma casa, olhei o vomitado aos meus pés e saiu-me ainda uma aguadilha clara.
A mulher que me ajudou fê-lo de uma maneira quase brutal.
Agarrou-me o braço e conduziu-me pela – escura entrada do prédio para um pátio. Em cima havia estendais com roupas penduradas de janela a janela. No pátio havia madeira empilhada; numa oficina com a porta aberta chiava uma serra e voavam estilhas. Ao lado da porta do pátio havia uma torneira. A mulher abriu-a, lavou-me primeiro a mão e depois recolheu água na concha das mãos e atirou-a para o meu rosto. Enxuguei a cara com o lenço.
– Leva o outro! – Ao lado da torneira estavam dois baldes, ela agarrou num e encheu-o. Peguei no outro e enchi-o, e depois segui-a pela entrada. A mulher balançou muito os braços, a água caiu de chapa no passeio e arrastou o vomitado para o esgoto. Tirou-me o balde da mão e atirou outra chapada de água sobre o passeio.
Endireitou-se e viu que eu chorava. – Miúdo – disse, surpreendida –, miúdo. – Abraçou-me. Eu era pouco mais alto do que ela, senti os seus seios no meu peito, no aperto do abraço cheirei o meu mau hálito e o suor fresco dela e não soube o que fazer com os braços. Parei de chorar.
Perguntou-me onde morava, deixou os baldes na entrada e levou-me a casa. Corria ao meu lado, com a minha pasta da escola numa mão e a outra mão no meu braço. A Rua da Estação não é muito longe da Rua das Flores. Caminhava depressa, e com uma determinação que me tornou mais fácil acompanhá-la. Despediu-se diante da minha casa.
Naquele mesmo dia, a minha mãe chamou o médico, que me diagnosticou icterícia. Num momento qualquer falei daquela mulher à minha mãe. Não acredito que de outra maneira a tivesse visitado. Mas para a minha mãe era natural que, logo que eu pudesse, iria comprar com o meu dinheiro um ramo de flores, apresentar-me e agradecer-lhe. Por isso, num dia do final de Fevereiro dirigi-me à Rua da Estação.""
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Insustentavelmente…
Por vez custa-nos no meio da desgraça pensar em responsáveis e responsabilidades. Mas sem a precisão dessa análise apenas estamos a dar frutos à inércia, à irresponsabilidade e não tirar conclusões que nos permitem atenuar novas desgraças, quiçá impedi-las. A catástrofe ambiental e social que neste momento atravessa o Brasil não pode passar em claro e merece uma reflexão. É certo que ninguém controla o clima, podemos agravá-lo ou tentar “normaliza-lo” mas a sua força é incontrolável.
Porém parece-me que os mais de uma centena de mortos no Brasil não são meramente fruto das fortes chuvadas… A esmagadora maioria das mortes são de favelas, das consideradas áreas de risco, onde o planeamento não existe, as construções são precárias e favorecem a acumulação das águas. A agravar a isto seguem-se os desmoronamentos.
Não seriam muitas destas mortes evitáveis com outro tipo de planeamento urbanístico e com outro tipo de políticas sociais? As mortes de todos estes pobres nas favelas são a consequência de um segregacionismo isolacionista que condena populações a condições de vida miseráveis em ambientes desestruturados que potenciam cheias e outros tipos de catástrofes.
A outra análise que me parece pertinente é a ineficácia deste modelo de globalização. Se a globalização fosse social, a resposta a catástrofes ambientais deste tipo seriam globais. Não seriam, como agora, meras migalhas para os estados ficarem bem na fotografia mas seriam respostas sérias. É impossível prever este tipo de situações, e uma globalização solidária passaria por os estados assumirem uma responsabilidade global e colectiva de resposta às catástrofes ambientais dos estados, dinamizando esforços reais e sérios.
Mas a globalização económica e resolver catástrofes naturais não é assim tão lucrativo.
Será comparável o dinheiro que os estados colocam no Brasil quando encontram uma oportunidade de mercado, com o dinheiro que colocam quando centenas morrem em catástrofes ambientais?
O neoliberalismo não responde às pessoas !
Porém parece-me que os mais de uma centena de mortos no Brasil não são meramente fruto das fortes chuvadas… A esmagadora maioria das mortes são de favelas, das consideradas áreas de risco, onde o planeamento não existe, as construções são precárias e favorecem a acumulação das águas. A agravar a isto seguem-se os desmoronamentos.
Não seriam muitas destas mortes evitáveis com outro tipo de planeamento urbanístico e com outro tipo de políticas sociais? As mortes de todos estes pobres nas favelas são a consequência de um segregacionismo isolacionista que condena populações a condições de vida miseráveis em ambientes desestruturados que potenciam cheias e outros tipos de catástrofes.
A outra análise que me parece pertinente é a ineficácia deste modelo de globalização. Se a globalização fosse social, a resposta a catástrofes ambientais deste tipo seriam globais. Não seriam, como agora, meras migalhas para os estados ficarem bem na fotografia mas seriam respostas sérias. É impossível prever este tipo de situações, e uma globalização solidária passaria por os estados assumirem uma responsabilidade global e colectiva de resposta às catástrofes ambientais dos estados, dinamizando esforços reais e sérios.
Mas a globalização económica e resolver catástrofes naturais não é assim tão lucrativo.
Será comparável o dinheiro que os estados colocam no Brasil quando encontram uma oportunidade de mercado, com o dinheiro que colocam quando centenas morrem em catástrofes ambientais?
O neoliberalismo não responde às pessoas !
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Inversão de prioridade...
Lê-se no Público que os Estados Unidos um ano depois já não ajudam a economia. Afinal toda a pompa e circunstância da Cimeira de Londres foi mero ShowOff, com Obama a aparecer como uma mera imagem de marketing, que apesar de renovada não esconde a sua verdadeira face.
A verdade é que a cimeira do G20 só foi isso: imagem de marketing.
Os mais distraídos pensariam que tínhamos voltado ao Keynesianismo e às políticas “Roosveltianas”, mas não... Um ano após a cimeira do G20 a prioridade já não é a economia, já não são os bancos, a regulação, a injecção de dinheiro, ou o (falso) combate ao desemprego; a prioridade agora são as contas públicas e os défices.
Enquanto as prioridades mudavam impulsionadas pelos lobbies que usaram a cimeiro do G20 como uma máscara, o Mundo assistiu a consecutivos ataques aos direitos das pessoas. O desemprego prolifera, a precariedade generaliza-se, as privatizações surgem com a “solução possível”, os pobres são criminalizados, os apoios sociais reduzidos, os salários congelados, e até se pensa em negar ajuda a um país da zona euro.
Por muitos combates e vitórias que tenhamos tido a burguesia está sempre um passo à frente. Conseguiu em tempos de crise financeira e desconfiança no sistema capitalista refortalecer-se e ganhar um novo fôlego… Resistiremos, não sairá vitoriosa!!!
Razão tinham os milhares que ficaram à porta da cimeira...
João Mineiro
em, adeuslenine.blogspot.com
terça-feira, 23 de março de 2010
Poema em linha recta
(Com uma dedicatória muito especial artista...)
"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza."
Álvaro de Campos
quarta-feira, 17 de março de 2010
Socialismo e Direitos Humanos
Quando Marx olhou a sociedade e pensou uma forma de organização política, económica e social alternativa, fê-lo porque constatou que o homem vivia na miséria, fruto da exploração e da opressão a que o capitalismo o submetia. Essa preocupação humana foi condição essencial do seu pensamento, e a esquerda anti-capitalista moderna, não pode aceitar que em nome do socialismo se pratiquem verdadeiros atentados aos Direitos Humanos. Isso é paradoxal, porque socialismo e Direitos Humanos são conceitos quase siameses.
Cuba, um dos poucos Estados que ainda tem a ousadia de se auto-caracterizar socialista, faz uso de uma retórica anti-guerra, anti-imperialismo e pelos Direitos Humanos. Advoga toda essa malha discursiva com a teoria anti-império (legitima por si só, mas não legitimadora de tudo). A Esquerda anti-capitalista tem de perceber que existem precedentes, que para lá de um discurso floreado existe toda uma organização política que se afastou no ideário humanista que Marx protagonizou.
Em Cuba não existe liberdade de expressão, de associação e de crítica. É um facto incontornável. Em pleno século XXI, é inconcebível que um Estado se caracterize de Socialista e utilize os seus órgãos repressivos para prender e deter quem pensa de maneira diferente. O império faz isso com a teoria “pensamento único” de forma encapotada, e também ai a Esquerda tem uma palavra a dizer e um ponto de exclamação a acrescentar. Porque superioridade da Esquerda mede-se pelos seus valores.
Um partido de esquerda socialista tem de olhar para os cerca de duzentos presos políticos, para a morte de Tamayo (e a repressão pós morte), para a repressão sobre os movimentos feministas, para os desaparecimentos (presumivelmente mortes) dos líderes de oposição, para o exílio de Cubanos críticos, e para os milhares que morrem na travessia, e perceber que esse é um caminho por onde não queremos ir.
Sem direitos humanos não há alternativa socialista. Quando há uns tempos li o “Conta-me coisas de Cuba”, de Jesus Diaz percebi que a questão Cubana era mais complexa do que se pensa. O autor não é propriamente de fiar, mas a análise é séria. A história da personagem que ele cria podia ser a história de qualquer Cubano, oprimido no seu país que acabou perdido no mar entre dois países e duas realidades concepcionais…
É verdade que Cuba é segregada e que o seu povo é brutalmente desrespeitado. Que existe uma ofensiva brutal sobre a sua economia. Mas isso não desculpa por si só, que o regime ignore os Direitos Humanos. Que, no fundo, deviam ser a pedra angular de qualquer regime socialista.
João Nuno Mineiro
em: http://www.acomuna.net/content/view/345/1/
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
A representação do lucro acima dos homens...
O boicote encapotado que os governos e a imprensa fazem ao Fórum Social Mundial, em oposição a um feedback brutal sobre o Fórum Económico Mundial é sintomático de uma lógica “mercantilizante” que, infelizmente, se foi enraizando. Essa lógica interessa à burguesia e aos neoliberais, daí que a rejeição e o desinteresse em relação ao Fórum Social Mundial seja notório e que as tentativas de silenciamento e boicote se reafirmem nestes tempos de recomposição do neoliberalismo. É importante perceber porque é que afinal de contas os governos, a burguesia e a imprensa ignoram os apelos do Fórum e se negam a ouvi-lo…
Boaventura Sousa Santos na sua crónica desta semana na “Visão” faz uma análise interessantíssima ao desprezo sobre o Fórum Social Mundial. Acabou de se realizar em Porto Alegre um seminário de avaliação do papel do Fórum no pensamento e na acção social destes últimos dez anos, ao mesmo tempo que se promoviam acções descentralizadas do Fórum numa série de outros países. Quantas notícias nos chegaram sobre estes encontros? Praticamente nenhumas. E quantas nos chegaram do Fórum Económico Mundial? Imensas. Lógico. Interessa à burguesia calar o Fórum Social, afinal de contas ele previu a crise e os seus efeitos gravíssimos na vida de milhões de pessoas. Advertiu sempre, desde a sua carta fundadora para os perigos da desregularão, do neoliberalismo e da teoria do pensamento único. Percebe-se a aversão dos governos e da burguesia ao Fórum Social Mundial quando se lê os seus pilares base: “O FSM é um espaço de debate democrático de ideias, aprofundamento da reflexão, formulação de propostas, troca de experiências e articulação de movimentos sociais, redes, ONGs e outras organizações da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo”. Como sabemos o neoliberalismo é adverso a uma verdadeira democracia, é adverso ao pensamento, ao debate, à reflexão, e a todo o tipo de teorias que digam que acima do dinheiro está o homem, e acima da guerra está a paz.
Por outro lado, percebe-se o casamento perfeito entre a burguesia, os seus governos e o Fórum Económico Mundial. Em 2001, como Boaventura escreve, as análises do FEM eram as de que as privatizações, o livre comércio e a desregulamentação económica e financeira eram a solução possível e definitiva e a única forma de combater as crises cíclicas do capitalismo. Definitiva até 2008, claro! Crise que aliás o FEM não previu… e o FSM previu. O FSM sempre afirmou que o neoliberalismo não era a única solução, que era a socialmente mais injusta.
As conclusões e deduções que faço, é que a imprensa e os governos preferem ouvir quem defendeu um modelo absoluto que levou à crise em que nos encontramos do que ouvir aqueles que são mais afectados por essa crise e por toda a barbárie que ela representa. O que se prova é que se preferem defender quem mais responsabilidade tem na catástrofe social que o mundo vive, do que ouvir os movimentos de todos os sofredores dessa catástrofe.
Talvez seja fundamentada a afirmação de que o capitalismo controla tudo e todos e exerce uma pressão brutal sobre todos os domínios da vida. Em vez de um controlo do tipo Orwelliano, é um controlo inconsciente, feito de pressões, de interferências encapotadas na vida das pessoas, e sobretudo de instituições sociais (do ponto de vista psicológico) que, habilmente, foi incutindo às sociedades.
Este ano o Fórum Social Mundial reafirma como primeiro grande tema, a paz e a democracia e para citar a actualidade das suas reflexões cito o artigo do Boaventura Sousa Santos (elucidativo ao ponto de não precisar de explicação): “As análises do FSM apontam para o recrudescimento da militarização dos conflitos sociais, incluindo a criminalização dos movimentos sociais e dos protestos dos cidadãos ante o agravamento da crise económica e das desigualdades, e o ressentimento que ele provoca, já que as suas vítimas são sempre os moralmente mais honestos, os socialmente mais vulneráveis e os politicamente menos poderosos, uma tríplice condição sobreposta nos ombros da maioria da população mundial.”
Artigo publicado em:
http://www.acomuna.net/content/view/333/1/
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Crítica literária às obras do concurso nacional de leitura
Sempre recusei classificar a obra de Pepetela como uma obra de desencanto, porque se é verdade que ele recria o desencanto da história, da guerra e da hipocrisia social em livros tão importantes da sua obra como A geração da utopia, também é verdade que a sua obra é desafiadora dos instintos humanos imaginando situações imprevisíveis prevendo de que forma o instinto humano age nessas situações. Essa característica é tão notável em obras como O quase fim do Mundo ou o Terrorista de Berkeley, Califórnia.
A Montanha da Água Lilás, parece-me que fica a meio termo. É uma história de desencanto, uma personificação do homem (com os lupis) e uma metaforização das acções (e reacções) dos lupis às acções dos homens. Nela é exaltado o lado negro do homem: a competitividade suja, a cegueira, a ignorância e a repressão de quem não se inclui no pensamento único. E, por outro lado, sugere uma situação imaginária (a descoberta da água lilás na montanha) prevendo as respostas que os instintos humanos dariam a essa possível situação. Termina de forma soberba: aprenderam eles com esta história? Escrita simples, acessível e um enredo aliciante. Pepetela oferece-nos uma deliciosa metáfora social neste livro impar na sua obra.
Sobre Inês de Portugal de João Aguiar, não tenho quase comentários a tecer. Lê-se bem embora nem a história, nem o enredo, nem as personagens, nem a escrita me tivessem cativado muito. Acho o enredo fraquíssimo porque a verdade é que o autor para completar a história e dar um pouco de conteúdo ao livro teve de criar enredos secundários que nada tinham a ver com o enredo principal. É uma tentativa imaginária de recomposição histórica que, na minha opinião, fica à quem das expectativas. Um livro que não traz nada de novo… Mas também, não perdi nada ao lê-lo
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Presidente até morrer
A partir de amanhã o presidente não eleito de Angola, há mais de 30 anos no poder, tem a certeza de que nunca terá de ir a votos. E ainda dizem que em Angola se têm verificado grandes progressos democráticos...
"Suponho que o regime angolano compreendeu que já nem sequer necessita de fazer de conta que é uma democracia. Enquanto a economia for crescendo, por pouco que seja e com todas as distorções que toda a gente conhece, continuará a ter o apoio do Ocidente" José Eduardo dos Santos e as suas reflexões sobre a democracia...
sábado, 16 de janeiro de 2010
A geração da Utopia
"A Geração da Utopia é o retrato desapiedado dos angolanos a quem ficou a dever-se a epopeia das lutas pela independência e da guerra civil que logo lhe sucedeu, das glórias e das sombras que marcaram esses longos anos de permanente conflito, e do descontentamento e da indiferença que insidiosamente se tornou o estigma de tantos desses homens e mulheres que fizeram, apesar de tudo, um país novo."
A Geração da utopia é, antes de mais, um livro de desencanto.
Sobre o autor: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pepetela
Um caldeirão fascista efervescente em Itália e no Mundo...
Compreender as estruturas de dominação do homem pelo homem, a sua ligação intrínseca aos legados fascistas e a imposição “destrutiva” de uma condição humana fragmentada e dividida faz-me olhar para os tumultos de imigrantes em Itália como uma consequência final de um “lóbi neo-fascista” profundamente xenófobo que vem minando muitas consciências alienadas. Importa que a esquerda olhe para Itália e saiba encontrar mecanismos de luta e cooperação nacional e internacional contra o ressurgimento dos legados fascistas brutalmente opressores e xenófobos e que tenha a ousadia de reviver a memória.
Em Rosarno no Sul de Itália, a partir de terça-feira dia 17 a cidade ficou “branca”. Isto porque foram evacuados os 2500 africanos que ali se dedicavam a actividades agrícolas, que eram explorados numa condição de quase escravatura. Nesse dia um grupo de jovens Italianos disparou contra dois trabalhadores negros que iam ao supermercado – desde já é possível concluir que a reforma xenófoba que Berlusconi levou para a educação, infelizmente, está a dar frutos –, dando origem a um motim racial como já não se via há anos (desde a segunda Guerra). Isto só por si quer dizer muito, significa que cada vez mais se está a perder a memória colectiva da 2ª guerra mundial e isso é perigosíssimo.
Ao fim do dia, dezenas de trabalhadores africanos ocuparam estradas e protestaram contra os ataques raciais e a profunda exploração a que estavam submetidos, a título de exemplo dezenas de imigrantes viviam numa velha fabrica de azeite sem água electricidade ou camas e trabalhava 14 horas por dia… Os protestos radicalizaram-se e arremessaram-se pedras, caixotes, viraram-se automóveis… A isto deu-se uma resposta popular com a constituição de várias milícias que promoveram uma verdadeira “caça ao negro”.
Os slogans das milícias são bem elucidativos da “explosividade” da situação: “Qualquer preto escondido em Rosarno deve ir-se embora”, “se vos encontrarmos matamo-vos”. Não foram simplesmente ameaças porque uma casa rural de imigrantes foi incendiada com gasolina… Houve tiros e feridos, quase todos subsarianos.
A autoridade estatal chega e evacua à noite quase todos os negros para outras cidades do Sul e o incontornável ministro do interior Italiano afirma que os motins são fruto “de anos de excesso de tolerância”. Não referiu se essa tolerância tem a ver com o compadrio e a inércia perante os grupos mafiosos que se aproveitam dos imigrantes no sul de Itália ou se tolerância tem a ver com os supostos excessivos direitos dos negros: pela sua linha de actuação, a dedução é simples.
Este motim racial não nos pode passar ao lado, esperando outros acontecimentos para mais tarde pensarmos em fazer alguma coisa. Este motim é antes de mais um aviso.
Há uns tempos no rescaldo de uma conferência na Universidade da Beira Interior, um professor de ciência política comentava comigo: o que será da Europa quando se perder a memória colectiva da segunda guerra mundial, das suas causas, consequências, das suas lições. É cada vez mais importante fazer essa ligação. A perda, que se vem acentuando, da memória colectiva das lições da segunda guerra mundial faz com que este tipo de motins recomece a acontecer.
É aqui que a esquerda entra, ou devia entrar. Terão de ser encontrados mecanismos internacionais de resposta às ofensivas neo-fascistas, de oposição às reformas xenófobas e de reavivamento da história. Neste caso, a inoperância pode levar ao pior. Já está a levar com o ressurgimento de movimentos fascistas e nazis assumidos – em Portugal a Frente Nacional -, mas pode levar ainda mais, caso comece a haver uma aceitação social generalizada por eles produzida que tornam por exemplos os imigrantes como bodes expiatórios de todos os problemas, isso parece-me que já vai acontecendo.
É urgente um pensamento colectivo sobre isto, é pensar o presente pensando o passado, e pensar o passado pensando o futuro.
João Nuno Mineiro
Em: http://www.acomuna.net/content/view/319/1/
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
"é fácil seguir a opinião da maioria"
Aqui deixo um apontamento que fiz para psicologia. Foi-nos pedido um comentário à frase de Séneca “é fácil seguir a opinião da maioria” a nível da psicologia social.
" Não querendo explorar a origem deste pensamento de Séneca, um filósofo profundamente ligado à ataraxia e ao estoicismo, pensando o mundo e a sua organização numa base mais divina do que humana e social, este seu pensamento analisado individualmente (pois carece de um contexto especifico em que foi produzido) parece-me importante aos nossos dias. Por um lado é preocupante: passados mais de dois mil anos a sociedade estagnou neste aspecto. Mas é normal que assim seja porque na verdade os mecanismos sociais e muitas vezes políticos que se formam ou desenvolveram desde a Roma antiga até aos nossos dias sempre fizeram com que o pensamento grupal, colectivista e aceite pela maioria pressionasse a escolhas e a formação de opiniões. Por vezes quem ousasse questionar essa maioria era até alvo de repressão umas vezes física, outras vezes intelectual. Seguir a opinião da maioria é mais fácil, sentimo-nos integrados e em sintonia com os outros e o ser humano se há coisa de que gosta e de ser aceite socialmente e não se sentir à margem. É mais fácil termos uma âncora social que nos dá confiança baseada naquilo que é socialmente aceite do que termos uma visão critica e mais pessoalizada do Mundo, da vida e do homem. Seguir a maioria implica não pensar muito porque quem segue a maioria dificilmente se sente constrangido com um simples “porquê” ao contrário de quem a contraria ou teima em pensar por si próprio. O facto de muita gente dizer que amarelo é amarelo não significa à partida que amarelo é amarelo, amarelo pode ser azul desde que seja claramente explicado porque é achamos que amarelo é azul. É um exemplo figurativo. A verdade não carece de uma maioria social que a faça ser verdadeira, nem de perto nem de longe. A verdade (assim como a razão) carece sim de ideias e premissas que a justifiquem quer acreditemos ou não no seu carácter absoluto.
Seguir os outros é simples, fácil e não implica pensar muito. Foi muitas vezes assim que se desenhou a história, pensando grupalmente, umas vezes certa, outras erradamente. Mas penso que a apetência que o ser humano tem para seguir a maioria é antes de mais exógena a ele. Essa apetência é influenciada por inúmeros factores externos de vários ordens. Preservar o pensamento crítico seja sobre o que for é a melhor forma de conduta, mas na verdade a sociedade ainda não está preparada para isso. "
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Há mais socialismo para além de Lenine !
Saiu a nova publicação da “Comuna” – uma revista de pensamento político dinamizada pela União Democrática Popular -, e nela foi incluído um artigo meu sobre a Birmânia. Versão online: http://www.acomuna.net/media/acomuna21.pdf
Até já (:
Até já (:
domingo, 10 de janeiro de 2010
Franz Kafka, "O Covil"
"N´O Covil, uma das poucas obras na primeira pessoa, uma toupeira constrói um emaranhado de túneis e armazéns de alimentos, criando assim um fortaleza que o protegia de todas as ameaças do exterior. Kakfa fantasiava com o local de trabalho perfeito, onde o silêncio reinava, desligado por completo do mundo. A comida era-lhe levada e ele teria apenas que se deslocar numa curta distancia para a conseguir, comendo-a logo de seguida antes que algum contacto humano o fizesse perder a concentração. Ele sempre gostou de se transformar em animais, sendo os seus favoritos os rastejantes ou que se escondessem com facilidade"
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Socialismo e Democracia: um casamento perfeito!
O enigmático país que acolheu a morte do guerrilheiro cumpre hoje o presságio que Guevara havia deixado. A vitória absolutamente democrática de Evo Morales na Bolívia, mais que uma razão para festejo de todos os socialistas é uma razão para reafirmarmos a esperança… A esperança no ressurgimento do socialismo do século XXI, absolutamente livre e absolutamente democrático. É obvio que isto está a incomodar os senhores do Mundo, afinal de contas, na Bolívia está-se a construir um socialismo democrático e anti autoritário, quem diria que seria possível, hein?
Quando na Bolívia em Janeiro sai vencedora a nova constituição Boliviana (e ao mesmo tempo Bolivariana) percebeu-se que a Bolívia caminhava para uma experiência inovadora em vários níveis; Quando Morales ganha nas urnas (com 61%) o que a direita reaccionária tinha tentado derrubar com violência nas ruas, percebe-se que o povo aprovou e quer verdadeiramente a mudança.
Em Janeiro os povos indígenas puderam celebrar, os seus direitos foram reconhecidos ao fim de anos de massacres físicos e culturais. Os indígenas (80% da população da Bolívia) puderam passar a dispor de uma quota obrigatória em todos os níveis de eleição, a ter propriedade exclusiva dos recursos florestais e direitos sobre a terra e os recursos hídricos. A partir de Janeiro foi limitada a terra dos grandes latifundiários (entre 10 mil e 5 mil) – acaba-se de vez com os abusos dos regimes monopolistas da terra controlados pelos grandes latifundiários instituídos numa espécie de capitalismo rural “aceitável” (supostamente visando a socialização dos benefícios) excluído o grosso que trabalha a terra – os povos (esses sim em luta pelo bem comum). A nível económico foi exigido às empresas estrangeiras que reinvistam os seus lucros na Bolívia; Uma questão de justiça simples – “tudo o que ganhas connosco e à nossa custa tens de investir na nossa terra e em nosso benefício.” A Igreja contestou o facto de se colocar todas as religiões em pé de igualdade, retirando ao catolicismo o lugar da "religião oficial do Estado".
De facto, o Sim venceu na Bolívia, e isso foi sem dúvida um grande avanço para a mudança do país. O triunfo do “Movimento ao Socialismo” nestas eleições, foi a confirmação desse projecto social de mudança democrática e revolucionária. Evo Morales ganhou as eleições na Bolívia com 61% dos votos. No seu discurso em La Paz, disse que a vitória nas eleições constituía uma obrigação para acelerar o processo de mudança que se vem construindo desde há quatro anos. O MAS alcançou a maioria nas duas câmaras da Assembleia Legislativa Plurinacional, e dois terços do Senado.
"Louvado seja aquele que correndo por entre os escombros da guerra, da política e das desgraças públicas, preserva sua honra intacta."… Velho Bolivar! A afirmação do socialismo na Bolívia é feita de cara levantada e de honra intacta, sem truques ou malabarismos eleitorais. E isso incomoda! A direita Boliviana faz o seu velho jogo de sombras, de ilusionismo factual, capta apoios dos estados capitalistas e encena factos de violência nas ruas como meio de justificar a derrota. Mas de que lado fica agora Obama? Será que Obama vai promover um novo espírito de diálogo com a América Latina – afinal ele é o Nobel da paz…? Ou vai persistir no erro histórico de desprezo e tentativa de boicote dos governos sul-americanos? …
O triunfo na Bolívia é um triunfo que me faz acreditar que existe uma segunda via para o socialismo… A aplicação do socialismo não se resume meramente a autoritarismo repressivo, anti-democrático e a brutalidade assassina… O socialismo pode ser libertário nos nossos dias, quando implementado de forma democrática, livre e com o apoio da população. O triunfo Bolíviano faz-me acreditar que essa segunda via é possível e que vale a pena lutar por ela. Por um socialismo com valores marxistas: liberdade, justiça, democracia!
Uma salva de palmas a Evo Morales por ter essa ousadia: a de construir uma excelente experiência de socialismo moderno, actual e democrático.
Cá estaremos, Bolívia, para ter ver crescer…
João Nuno Mineiro
Artigo publicado em:
http://www.acomuna.net/content/view/306/1/
tags: política
Augusto Cury
"A maior aventura de um ser humano é viajar, e a maior viagem que alguém pode empreender é para dentro de si mesmo. E o modo mais emocionante de realizá-la é ler um livro, eois um livro revela que a vida é o maior de todos os livros, mas é pouco útil para quem não souber ler nas entrelinhas e descobrir o que as palavras não disseram..."
Pelo ensino superior...
Cerca de quatro mil estudantes do Ensino Superior vindos de todo o país manifestaram-se contra a política de desinvestimento sucessivo por parte do Governo, que conduziu à degradação das universidades e ao abandono de muitos estudantes devido à insuficiência do sistema de acção social.
Celebrar o passado, lutar pelo futuro...
A queda do Muro de Berlim do dia 9 de Novembro de 1890 após 28 anos de divisão, além de um acontecimento histórico de relevância política, ideológica, económica e social, é também um acontecimento com marcas concretas na nossa actualidade… Dessa queda resultaram alterações políticas, económicas e sociais que se prolongaram até aos nossos dias. Em 1961 Berlim foi divido por um muro de betão e de arame farpado. Este muro, conhecido pelo “Muro de Berlim” dividiu a RFA (Republica Federal Alemã) e a RDA (República Democrática Alemã). Mais que uma fronteira física, esta divisão marcou um profundo fosso ideológico entre os adeptos da democracia liberal de inspiração ocidental – RFA –, e os socialistas, adeptos do regime soviético uni partidário gerido de forma autocrática. Essa clivagem ideológica surge no seio da Guerra Fria, em que existia um confronto ideológico e burocrático protagonizado pelos EUA e pela URSS que, obviamente, arrastavam os seus parceiros estratégicos.
O Muro de Berlim, por muitos apelidado de “muro da vergonha” dividiu assim famílias, amigos e cidadãos do mesmo estado. A passagem do muro era interdita… Era um muro opressor onde muitos cidadãos morreram por simplesmente o quererem atravessar, porque na verdade um dos objectivos da construção do muro foi impedir o fluxo de pessoas… Estima-se que naquela época a imigração para o ocidente era de mil pessoas por dia o que era um desastre para a RDA. Assim, depois de anos e anos de protestos, manifestações e tumultos na RDA, no dia 9 de Novembro de 1890 o muro caiu. O governo da RDA foi incapaz de amenizar os acontecimentos tendo-se demitido e abrindo a brecha à muito esperada. As autoridades anunciam a abertura do muro e cumpriu-se a principal exigência dos movimentos sociais da RDA: a reunificação Alemã.
O efeito do desaparecimento do Muro de Berlim tem repercussões fora da própria Alemanha. Depois da sua queda, os acontecimentos precipitam-se no Leste da Europa os regimes comunistas desmoronam-se em efeito dominó – Bulgária, Checoslováquia, Hungria, Polónia, Roménia, Albânia, Jugoslávia e de certo modo a URSS. Com efeito a queda do Muro de Berlim não teve repercussões somente na Alemanha. A queda do muro foi um acontecimento simbólico que marcou o fim da disputa política e ideológica chamada de Guerra Fria. Com a queda do muro e dois anos mais tarde o desmembramento da URSS acabaram as tensões ideológicas comunistas\liberais, e a democracia liberal de inspiração ocidental implementou-se como regime único em quase todas as partes do Mundo.
Particularmente na Europa a queda do Muro teve repercussões abissais… Com a reconversão de muitos estado ao sistema liberal impôs-se à CEE, mais tarde EU (Maastricht 1992), o agendamento de muitas novas adesões… Abriu-se caminho à criação de uma Europa unificada e convergente assente em valores democráticos, criando-se novas esperanças à reconstrução europeia e a um projecto político, económico e social mais forte e coeso.
Contudo, apesar das lições históricas que o muro de Berlim trouxe ao Mundo, continuam a persistir nos nossos dias muros tão vergonhosos e desumanos quanto este... Muros físicos e psicológicos que oprimem milhares de pessoas. Poucos saberão que existe ainda um muro a dividir uma capital europeia, um caso único em todo o mundo. É em Nicósia, a capital do Chipre. Hoje em dia, os cipriotas de ambos os lados do muro continuam à espera de ver mais avanços no processo de reunificação da ilha. O muro mais conhecido da actualidade foi erguido pelos israelitas, ao longo de uma fronteira que mais ninguém reconhece e que foi desenhada de forma a anexar territórios da Cisjordânia, isolando as localidades palestinianas e reforçando os colonatos mais importantes. A construção começou em 1994, sob um coro de críticas e condenação até por parte do Tribunal Internacional de Justiça de Haia, que dois anos mais tarde o declarou ilegal. Mas isso não impediu os governos de Israel de prosseguirem com o plano de 700 quilómetros de muro erguidos a 8 metros de altura. O cerco aos palestinianos completa-se com a barreira que atravessa a faixa de Gaza e o muro de Rafah, na fronteira com o Egipto.
Outros muros foram construídos na sequência de guerras e ocupações, como o que as tropas norte-americanas ergueram em Bagdade em 2007, dividindo as comunidades sunita e xiita da capital iraquiana. No vizinho Irão, o muro que está a ser construído separa ainda mais o país do vizinho Paquistão. Do outro lado, também a Índia constrói uma cerca na maior parte dos 1800 quilómetros que a separa dos paquistaneses. E o regime de Islamabad, cada vez mais cercado, parece concordar com a receita, tendo anunciado em 2005 os seus planos para erguer um muro na fronteira com o Afeganistão. Para além deste projecto e das barreiras que protegem algumas zonas de Cabul, os afegãos contam também com cercas electrificadas e de arame farpado na fronteira. O arame farpado é também o material dominante na fronteira do Uzbequistão com o Quirguistão. E há outras fronteiras que separam em vez de unir, recorrendo a muros, cercas e barreiras várias. Para além dos já citados, vejam-se os casos da Tailândia com a Malásia, das Coreias, da China com Hong-Kong, Macau e Coreia do Norte e da Rússia com vários países.
Celebrar a queda do Muro de Berlim é ao mesmo tempo aprender com ele… Aprender que ninguém tem o direito de dividir um povo, aprender que a segregação não é sinónimo de integração, muito menos de resolução dos problemas, aprender que é preciso mais democracia e não menos democracia, aprender que a divisão física e também psicológicas entre habitantes do mesmo espaço é simplesmente um acto covardia, de autoritarismo e de falta de respeito pela dignidade humana…
… celebramos os 20 anos da queda do Muro de Berlim com entusiasmo e alegria, mas celebramo-los também na certeza de que cada vez mais é preciso sonhar como sonharam os milhares de Alemãs que no 9 de Novembro de 1989 destruíram aquele muro, cada vez mais é preciso sonhar que um dia conseguiremos abater todos os muros opressores por este Mundo fora…
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