quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Crítica literária às obras do concurso nacional de leitura


Sempre recusei classificar a obra de Pepetela como uma obra de desencanto, porque se é verdade que ele recria o desencanto da história, da guerra e da hipocrisia social em livros tão importantes da sua obra como A geração da utopia, também é verdade que a sua obra é desafiadora dos instintos humanos imaginando situações imprevisíveis prevendo de que forma o instinto humano age nessas situações. Essa característica é tão notável em obras como O quase fim do Mundo ou o Terrorista de Berkeley, Califórnia.

A Montanha da Água Lilás, parece-me que fica a meio termo. É uma história de desencanto, uma personificação do homem (com os lupis) e uma metaforização das acções (e reacções) dos lupis às acções dos homens. Nela é exaltado o lado negro do homem: a competitividade suja, a cegueira, a ignorância e a repressão de quem não se inclui no pensamento único. E, por outro lado, sugere uma situação imaginária (a descoberta da água lilás na montanha) prevendo as respostas que os instintos humanos dariam a essa possível situação. Termina de forma soberba: aprenderam eles com esta história? Escrita simples, acessível e um enredo aliciante. Pepetela oferece-nos uma deliciosa metáfora social neste livro impar na sua obra.



Sobre Inês de Portugal de João Aguiar, não tenho quase comentários a tecer. Lê-se bem embora nem a história, nem o enredo, nem as personagens, nem a escrita me tivessem cativado muito. Acho o enredo fraquíssimo porque a verdade é que o autor para completar a história e dar um pouco de conteúdo ao livro teve de criar enredos secundários que nada tinham a ver com o enredo principal. É uma tentativa imaginária de recomposição histórica que, na minha opinião, fica à quem das expectativas. Um livro que não traz nada de novo… Mas também, não perdi nada ao lê-lo

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Presidente até morrer



A partir de amanhã o presidente não eleito de Angola, há mais de 30 anos no poder, tem a certeza de que nunca terá de ir a votos. E ainda dizem que em Angola se têm verificado grandes progressos democráticos...

"Suponho que o regime angolano compreendeu que já nem sequer necessita de fazer de conta que é uma democracia. Enquanto a economia for crescendo, por pouco que seja e com todas as distorções que toda a gente conhece, continuará a ter o apoio do Ocidente" José Eduardo dos Santos e as suas reflexões sobre a democracia...

sábado, 16 de janeiro de 2010

A geração da Utopia


"A Geração da Utopia é o retrato desapiedado dos angolanos a quem ficou a dever-se a epopeia das lutas pela independência e da guerra civil que logo lhe sucedeu, das glórias e das sombras que marcaram esses longos anos de permanente conflito, e do descontentamento e da indiferença que insidiosamente se tornou o estigma de tantos desses homens e mulheres que fizeram, apesar de tudo, um país novo."

A Geração da utopia é, antes de mais, um livro de desencanto.

Sobre o autor: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pepetela

Um caldeirão fascista efervescente em Itália e no Mundo...



Compreender as estruturas de dominação do homem pelo homem, a sua ligação intrínseca aos legados fascistas e a imposição “destrutiva” de uma condição humana fragmentada e dividida faz-me olhar para os tumultos de imigrantes em Itália como uma consequência final de um “lóbi neo-fascista” profundamente xenófobo que vem minando muitas consciências alienadas. Importa que a esquerda olhe para Itália e saiba encontrar mecanismos de luta e cooperação nacional e internacional contra o ressurgimento dos legados fascistas brutalmente opressores e xenófobos e que tenha a ousadia de reviver a memória.

Em Rosarno no Sul de Itália, a partir de terça-feira dia 17 a cidade ficou “branca”. Isto porque foram evacuados os 2500 africanos que ali se dedicavam a actividades agrícolas, que eram explorados numa condição de quase escravatura. Nesse dia um grupo de jovens Italianos disparou contra dois trabalhadores negros que iam ao supermercado – desde já é possível concluir que a reforma xenófoba que Berlusconi levou para a educação, infelizmente, está a dar frutos –, dando origem a um motim racial como já não se via há anos (desde a segunda Guerra). Isto só por si quer dizer muito, significa que cada vez mais se está a perder a memória colectiva da 2ª guerra mundial e isso é perigosíssimo.

Ao fim do dia, dezenas de trabalhadores africanos ocuparam estradas e protestaram contra os ataques raciais e a profunda exploração a que estavam submetidos, a título de exemplo dezenas de imigrantes viviam numa velha fabrica de azeite sem água electricidade ou camas e trabalhava 14 horas por dia… Os protestos radicalizaram-se e arremessaram-se pedras, caixotes, viraram-se automóveis… A isto deu-se uma resposta popular com a constituição de várias milícias que promoveram uma verdadeira “caça ao negro”.

Os slogans das milícias são bem elucidativos da “explosividade” da situação: “Qualquer preto escondido em Rosarno deve ir-se embora”, “se vos encontrarmos matamo-vos”. Não foram simplesmente ameaças porque uma casa rural de imigrantes foi incendiada com gasolina… Houve tiros e feridos, quase todos subsarianos.

A autoridade estatal chega e evacua à noite quase todos os negros para outras cidades do Sul e o incontornável ministro do interior Italiano afirma que os motins são fruto “de anos de excesso de tolerância”. Não referiu se essa tolerância tem a ver com o compadrio e a inércia perante os grupos mafiosos que se aproveitam dos imigrantes no sul de Itália ou se tolerância tem a ver com os supostos excessivos direitos dos negros: pela sua linha de actuação, a dedução é simples.

Este motim racial não nos pode passar ao lado, esperando outros acontecimentos para mais tarde pensarmos em fazer alguma coisa. Este motim é antes de mais um aviso.

Há uns tempos no rescaldo de uma conferência na Universidade da Beira Interior, um professor de ciência política comentava comigo: o que será da Europa quando se perder a memória colectiva da segunda guerra mundial, das suas causas, consequências, das suas lições. É cada vez mais importante fazer essa ligação. A perda, que se vem acentuando, da memória colectiva das lições da segunda guerra mundial faz com que este tipo de motins recomece a acontecer.

É aqui que a esquerda entra, ou devia entrar. Terão de ser encontrados mecanismos internacionais de resposta às ofensivas neo-fascistas, de oposição às reformas xenófobas e de reavivamento da história. Neste caso, a inoperância pode levar ao pior. Já está a levar com o ressurgimento de movimentos fascistas e nazis assumidos – em Portugal a Frente Nacional -, mas pode levar ainda mais, caso comece a haver uma aceitação social generalizada por eles produzida que tornam por exemplos os imigrantes como bodes expiatórios de todos os problemas, isso parece-me que já vai acontecendo.

É urgente um pensamento colectivo sobre isto, é pensar o presente pensando o passado, e pensar o passado pensando o futuro.


João Nuno Mineiro

Em: http://www.acomuna.net/content/view/319/1/

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

"é fácil seguir a opinião da maioria"




Aqui deixo um apontamento que fiz para psicologia. Foi-nos pedido um comentário à frase de Séneca “é fácil seguir a opinião da maioria” a nível da psicologia social.


" Não querendo explorar a origem deste pensamento de Séneca, um filósofo profundamente ligado à ataraxia e ao estoicismo, pensando o mundo e a sua organização numa base mais divina do que humana e social, este seu pensamento analisado individualmente (pois carece de um contexto especifico em que foi produzido) parece-me importante aos nossos dias. Por um lado é preocupante: passados mais de dois mil anos a sociedade estagnou neste aspecto. Mas é normal que assim seja porque na verdade os mecanismos sociais e muitas vezes políticos que se formam ou desenvolveram desde a Roma antiga até aos nossos dias sempre fizeram com que o pensamento grupal, colectivista e aceite pela maioria pressionasse a escolhas e a formação de opiniões. Por vezes quem ousasse questionar essa maioria era até alvo de repressão umas vezes física, outras vezes intelectual. Seguir a opinião da maioria é mais fácil, sentimo-nos integrados e em sintonia com os outros e o ser humano se há coisa de que gosta e de ser aceite socialmente e não se sentir à margem. É mais fácil termos uma âncora social que nos dá confiança baseada naquilo que é socialmente aceite do que termos uma visão critica e mais pessoalizada do Mundo, da vida e do homem. Seguir a maioria implica não pensar muito porque quem segue a maioria dificilmente se sente constrangido com um simples “porquê” ao contrário de quem a contraria ou teima em pensar por si próprio. O facto de muita gente dizer que amarelo é amarelo não significa à partida que amarelo é amarelo, amarelo pode ser azul desde que seja claramente explicado porque é achamos que amarelo é azul. É um exemplo figurativo. A verdade não carece de uma maioria social que a faça ser verdadeira, nem de perto nem de longe. A verdade (assim como a razão) carece sim de ideias e premissas que a justifiquem quer acreditemos ou não no seu carácter absoluto.


Seguir os outros é simples, fácil e não implica pensar muito. Foi muitas vezes assim que se desenhou a história, pensando grupalmente, umas vezes certa, outras erradamente. Mas penso que a apetência que o ser humano tem para seguir a maioria é antes de mais exógena a ele. Essa apetência é influenciada por inúmeros factores externos de vários ordens. Preservar o pensamento crítico seja sobre o que for é a melhor forma de conduta, mas na verdade a sociedade ainda não está preparada para isso. "

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Concordas com o alargamento do subsidio de desemprego? Assina :)

Há mais socialismo para além de Lenine !

Saiu a nova publicação da “Comuna” – uma revista de pensamento político dinamizada pela União Democrática Popular -, e nela foi incluído um artigo meu sobre a Birmânia. Versão online: http://www.acomuna.net/media/acomuna21.pdf

Até já (:

domingo, 10 de janeiro de 2010

Franz Kafka, "O Covil"



"N´O Covil, uma das poucas obras na primeira pessoa, uma toupeira constrói um emaranhado de túneis e armazéns de alimentos, criando assim um fortaleza que o protegia de todas as ameaças do exterior. Kakfa fantasiava com o local de trabalho perfeito, onde o silêncio reinava, desligado por completo do mundo. A comida era-lhe levada e ele teria apenas que se deslocar numa curta distancia para a conseguir, comendo-a logo de seguida antes que algum contacto humano o fizesse perder a concentração. Ele sempre gostou de se transformar em animais, sendo os seus favoritos os rastejantes ou que se escondessem com facilidade"

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

terça-feira, 5 de janeiro de 2010




3 DIAS para a legalização do casamento homossexual... Sem igualdade não há liberdade !

Otis Rush

Socialismo e Democracia: um casamento perfeito!



O enigmático país que acolheu a morte do guerrilheiro cumpre hoje o presságio que Guevara havia deixado. A vitória absolutamente democrática de Evo Morales na Bolívia, mais que uma razão para festejo de todos os socialistas é uma razão para reafirmarmos a esperança… A esperança no ressurgimento do socialismo do século XXI, absolutamente livre e absolutamente democrático. É obvio que isto está a incomodar os senhores do Mundo, afinal de contas, na Bolívia está-se a construir um socialismo democrático e anti autoritário, quem diria que seria possível, hein?

Quando na Bolívia em Janeiro sai vencedora a nova constituição Boliviana (e ao mesmo tempo Bolivariana) percebeu-se que a Bolívia caminhava para uma experiência inovadora em vários níveis; Quando Morales ganha nas urnas (com 61%) o que a direita reaccionária tinha tentado derrubar com violência nas ruas, percebe-se que o povo aprovou e quer verdadeiramente a mudança.

Em Janeiro os povos indígenas puderam celebrar, os seus direitos foram reconhecidos ao fim de anos de massacres físicos e culturais. Os indígenas (80% da população da Bolívia) puderam passar a dispor de uma quota obrigatória em todos os níveis de eleição, a ter propriedade exclusiva dos recursos florestais e direitos sobre a terra e os recursos hídricos. A partir de Janeiro foi limitada a terra dos grandes latifundiários (entre 10 mil e 5 mil) – acaba-se de vez com os abusos dos regimes monopolistas da terra controlados pelos grandes latifundiários instituídos numa espécie de capitalismo rural “aceitável” (supostamente visando a socialização dos benefícios) excluído o grosso que trabalha a terra – os povos (esses sim em luta pelo bem comum). A nível económico foi exigido às empresas estrangeiras que reinvistam os seus lucros na Bolívia; Uma questão de justiça simples – “tudo o que ganhas connosco e à nossa custa tens de investir na nossa terra e em nosso benefício.” A Igreja contestou o facto de se colocar todas as religiões em pé de igualdade, retirando ao catolicismo o lugar da "religião oficial do Estado".

De facto, o Sim venceu na Bolívia, e isso foi sem dúvida um grande avanço para a mudança do país. O triunfo do “Movimento ao Socialismo” nestas eleições, foi a confirmação desse projecto social de mudança democrática e revolucionária. Evo Morales ganhou as eleições na Bolívia com 61% dos votos. No seu discurso em La Paz, disse que a vitória nas eleições constituía uma obrigação para acelerar o processo de mudança que se vem construindo desde há quatro anos. O MAS alcançou a maioria nas duas câmaras da Assembleia Legislativa Plurinacional, e dois terços do Senado.

"Louvado seja aquele que correndo por entre os escombros da guerra, da política e das desgraças públicas, preserva sua honra intacta."… Velho Bolivar! A afirmação do socialismo na Bolívia é feita de cara levantada e de honra intacta, sem truques ou malabarismos eleitorais. E isso incomoda! A direita Boliviana faz o seu velho jogo de sombras, de ilusionismo factual, capta apoios dos estados capitalistas e encena factos de violência nas ruas como meio de justificar a derrota. Mas de que lado fica agora Obama? Será que Obama vai promover um novo espírito de diálogo com a América Latina – afinal ele é o Nobel da paz…? Ou vai persistir no erro histórico de desprezo e tentativa de boicote dos governos sul-americanos? …

O triunfo na Bolívia é um triunfo que me faz acreditar que existe uma segunda via para o socialismo… A aplicação do socialismo não se resume meramente a autoritarismo repressivo, anti-democrático e a brutalidade assassina… O socialismo pode ser libertário nos nossos dias, quando implementado de forma democrática, livre e com o apoio da população. O triunfo Bolíviano faz-me acreditar que essa segunda via é possível e que vale a pena lutar por ela. Por um socialismo com valores marxistas: liberdade, justiça, democracia!

Uma salva de palmas a Evo Morales por ter essa ousadia: a de construir uma excelente experiência de socialismo moderno, actual e democrático.

Cá estaremos, Bolívia, para ter ver crescer…

João Nuno Mineiro


Artigo publicado em:

http://www.acomuna.net/content/view/306/1/

tags: política

Augusto Cury




"A maior aventura de um ser humano é viajar, e a maior viagem que alguém pode empreender é para dentro de si mesmo. E o modo mais emocionante de realizá-la é ler um livro, eois um livro revela que a vida é o maior de todos os livros, mas é pouco útil para quem não souber ler nas entrelinhas e descobrir o que as palavras não disseram..."

Pelo ensino superior...

Cerca de quatro mil estudantes do Ensino Superior vindos de todo o país manifestaram-se contra a política de desinvestimento sucessivo por parte do Governo, que conduziu à degradação das universidades e ao abandono de muitos estudantes devido à insuficiência do sistema de acção social.

Celebrar o passado, lutar pelo futuro...


A queda do Muro de Berlim do dia 9 de Novembro de 1890 após 28 anos de divisão, além de um acontecimento histórico de relevância política, ideológica, económica e social, é também um acontecimento com marcas concretas na nossa actualidade… Dessa queda resultaram alterações políticas, económicas e sociais que se prolongaram até aos nossos dias. Em 1961 Berlim foi divido por um muro de betão e de arame farpado. Este muro, conhecido pelo “Muro de Berlim” dividiu a RFA (Republica Federal Alemã) e a RDA (República Democrática Alemã). Mais que uma fronteira física, esta divisão marcou um profundo fosso ideológico entre os adeptos da democracia liberal de inspiração ocidental – RFA –, e os socialistas, adeptos do regime soviético uni partidário gerido de forma autocrática. Essa clivagem ideológica surge no seio da Guerra Fria, em que existia um confronto ideológico e burocrático protagonizado pelos EUA e pela URSS que, obviamente, arrastavam os seus parceiros estratégicos.


O Muro de Berlim, por muitos apelidado de “muro da vergonha” dividiu assim famílias, amigos e cidadãos do mesmo estado. A passagem do muro era interdita… Era um muro opressor onde muitos cidadãos morreram por simplesmente o quererem atravessar, porque na verdade um dos objectivos da construção do muro foi impedir o fluxo de pessoas… Estima-se que naquela época a imigração para o ocidente era de mil pessoas por dia o que era um desastre para a RDA. Assim, depois de anos e anos de protestos, manifestações e tumultos na RDA, no dia 9 de Novembro de 1890 o muro caiu. O governo da RDA foi incapaz de amenizar os acontecimentos tendo-se demitido e abrindo a brecha à muito esperada. As autoridades anunciam a abertura do muro e cumpriu-se a principal exigência dos movimentos sociais da RDA: a reunificação Alemã.


O efeito do desaparecimento do Muro de Berlim tem repercussões fora da própria Alemanha. Depois da sua queda, os acontecimentos precipitam-se no Leste da Europa os regimes comunistas desmoronam-se em efeito dominó – Bulgária, Checoslováquia, Hungria, Polónia, Roménia, Albânia, Jugoslávia e de certo modo a URSS. Com efeito a queda do Muro de Berlim não teve repercussões somente na Alemanha. A queda do muro foi um acontecimento simbólico que marcou o fim da disputa política e ideológica chamada de Guerra Fria. Com a queda do muro e dois anos mais tarde o desmembramento da URSS acabaram as tensões ideológicas comunistas\liberais, e a democracia liberal de inspiração ocidental implementou-se como regime único em quase todas as partes do Mundo.



Particularmente na Europa a queda do Muro teve repercussões abissais… Com a reconversão de muitos estado ao sistema liberal impôs-se à CEE, mais tarde EU (Maastricht 1992), o agendamento de muitas novas adesões… Abriu-se caminho à criação de uma Europa unificada e convergente assente em valores democráticos, criando-se novas esperanças à reconstrução europeia e a um projecto político, económico e social mais forte e coeso.



Contudo, apesar das lições históricas que o muro de Berlim trouxe ao Mundo, continuam a persistir nos nossos dias muros tão vergonhosos e desumanos quanto este... Muros físicos e psicológicos que oprimem milhares de pessoas. Poucos saberão que existe ainda um muro a dividir uma capital europeia, um caso único em todo o mundo. É em Nicósia, a capital do Chipre. Hoje em dia, os cipriotas de ambos os lados do muro continuam à espera de ver mais avanços no processo de reunificação da ilha. O muro mais conhecido da actualidade foi erguido pelos israelitas, ao longo de uma fronteira que mais ninguém reconhece e que foi desenhada de forma a anexar territórios da Cisjordânia, isolando as localidades palestinianas e reforçando os colonatos mais importantes. A construção começou em 1994, sob um coro de críticas e condenação até por parte do Tribunal Internacional de Justiça de Haia, que dois anos mais tarde o declarou ilegal. Mas isso não impediu os governos de Israel de prosseguirem com o plano de 700 quilómetros de muro erguidos a 8 metros de altura. O cerco aos palestinianos completa-se com a barreira que atravessa a faixa de Gaza e o muro de Rafah, na fronteira com o Egipto.

Outros muros foram construídos na sequência de guerras e ocupações, como o que as tropas norte-americanas ergueram em Bagdade em 2007, dividindo as comunidades sunita e xiita da capital iraquiana. No vizinho Irão, o muro que está a ser construído separa ainda mais o país do vizinho Paquistão. Do outro lado, também a Índia constrói uma cerca na maior parte dos 1800 quilómetros que a separa dos paquistaneses. E o regime de Islamabad, cada vez mais cercado, parece concordar com a receita, tendo anunciado em 2005 os seus planos para erguer um muro na fronteira com o Afeganistão. Para além deste projecto e das barreiras que protegem algumas zonas de Cabul, os afegãos contam também com cercas electrificadas e de arame farpado na fronteira. O arame farpado é também o material dominante na fronteira do Uzbequistão com o Quirguistão. E há outras fronteiras que separam em vez de unir, recorrendo a muros, cercas e barreiras várias. Para além dos já citados, vejam-se os casos da Tailândia com a Malásia, das Coreias, da China com Hong-Kong, Macau e Coreia do Norte e da Rússia com vários países.

Celebrar a queda do Muro de Berlim é ao mesmo tempo aprender com ele… Aprender que ninguém tem o direito de dividir um povo, aprender que a segregação não é sinónimo de integração, muito menos de resolução dos problemas, aprender que é preciso mais democracia e não menos democracia, aprender que a divisão física e também psicológicas entre habitantes do mesmo espaço é simplesmente um acto covardia, de autoritarismo e de falta de respeito pela dignidade humana…

… celebramos os 20 anos da queda do Muro de Berlim com entusiasmo e alegria, mas celebramo-los também na certeza de que cada vez mais é preciso sonhar como sonharam os milhares de Alemãs que no 9 de Novembro de 1989 destruíram aquele muro, cada vez mais é preciso sonhar que um dia conseguiremos abater todos os muros opressores por este Mundo fora…